terça-feira, 7 de dezembro de 2010

castigo

tuas mãos sujas, calejadas, esfarrapadas
deixam digitais nos meus olhos, pele e cabelos
te quero fora e exorcizado de mim, mesmo que só por hoje
só pra poder lembrar do tempo em que eu sonhava por ti
esquecer de mim nos teus bracos e tirar de ti a vida
assim como gostaria de tira-la de mim
tuas declarações nunca foram suficiente, nem as tuas, nem as tuas, nem as tuas...
quando a musica muda, muda a cor, o cheiro, o sentir
e me da vontade de ser tua de novo
e de curar teus calos e secar teu suor
"o esforço acabou" dizer no teu ouvido baixinho: it's already over
enquanto tu te esperneias e gritas para que não o solte
e então
eu te observo cair
e o teu olhar se tornou sereno durante o trajeto ate o chão
nesse segundo eu vi que tu compreendias e me perdoavas por te-lo amado tanto
e eu vi tua vida sair do teu corpo num leve sopro
sorri e me senti completamente amada por saber que tu serias sempre meu e que, mesmo sem vida, teus olhos seguiriam, sempre, olhando pra mim.


o trajeto de volta pra casa foi como se, a cada passo, um pedaço de mim se perdesse pelo caminho.
atravessei o campo de flores sob o luar, rodopiando e dançando feito menina em sonhos dourados.
cantava teu nome e a cada silaba saboreava como se o dissesse pela primeira vez.
engraçado como o nome da pessoa amada se torna enfeitiçante. como se tivesse o poder de materializar-lo ali em minha frente. então peguei em tua mão e deixei que me levasse ate um trajeto mais escuro.
ficou frio, gelado e muito, muito escuro. então cai. cai e rasguei a palma.
vi o sangue e então eu vi, vi que estava sozinha e o sangue não era meu.
de repente, um buraco abriu-se dentro de mim pois percebi que não estavas ao meu lado, nem jamais voltaria a estar
ao dar-me conta do ocorrido, pus me a chorar lagrimas frias que de nada me adiantavam
comecei a correr, eu tenho medo do escuro, do desconhecido e de qualquer coisa sem ti.
enquanto corria, pedia perdão, pedia que viesse me socorrer, que nunca mais faria aquilo de novo, prometo!
cheguei ate os trilhos de trem, nos quais tantas vezes nos despedimos e tu partias para tao longe...
e agora o longe se transformou em nunca mais, e o amanha se transformou em pra sempre.
soluçava e gritava aos ventos que jamais me perdoaria, que jamais me deixaria amar outra vez, que preferia a morte a ter de viver sem minha vida.
a luz me cegou, interrompeu minha fúria
olhei para a luz e então te vi, não a tua materialização mas tu, de verdade, caminhando em minha direção.
tu sorrias, sorrias aquele teu sorriso leve e bandido.
era o perdão
então eu corri, corri em tua direção, em direção a minha luz e então... como que num baque surdo, eu estava em teus bracos e eu te beijava o peito, como se nunca mais fossemos nos soltar
uma lagrima rolou, estava feliz e me senti amada pois, agora sim, tu serias sempre meu mas, por estar eternamente abracada em ti, jamais veria, novamente, teus olhos olhando pra mim.

3 comentários:

S disse...

"mas, por estar eternamente abracada em ti, jamais veria, novamente, teus olhos olhando pra mim."

nossa, te puxou! tu sabe acabar um texto. muito bom.

Gabi disse...

que amor mais desesperado, puro, terno, brutal, aprisionante... tudo junto ao mesmo tempo! que elipse delirante de pensamentos e experiências, que narrativa linda e insana!
just loved it!

Leandro Borges disse...

é me fez viajar pelas emoções
muito bom querida

Beijos!